Redação Portal Independente
- 3 de jul.

(RE)DESCOBRINDO BRUMADINHO

Foto - Arquivo da Prefeitura de Brumadinho

Antes de começar a dissertar sobre qualquer assunto, agradeço ao Talles Costa pelo convite e oportunidade de falar sobre assuntos que tanto me agradam e que foram durante as últimas décadas assuntos de muito estudo e pesquisa: Brumadinho e o seu patrimônio cultural.

O que é redescobrir? Redescobrir, é tornar a descobrir, descobrir novamente. Digno de nota que a palavra redescobrir é um verbo transitivo direto, ou seja, está ligado de modo direto ao objeto. Quando falamos em “redescobrir” Brumadinho, estamos dissertando sobre um novo olhar (ou olhar novamente) sobre o objeto patrimônio cultural brumadinhense. Partindo do objeto “redescobrir” torna-se necessário construirmos e reconstruímos ideias, conceitos e ação, pensando que sempre podemos: repensar, reinventar e porque não aperfeiçoar ações existentes. Como diria Jorge Larrosa “é contando histórias, nossas próprias histórias, o que nos acontece e o sentido que damos ao que nos acontece, que nós damos a nós próprios uma identidade no tempo”. Compreendo que esse sujeito de experiência é um sujeito de constante construção e desconstrução.

Diante desse descobrir novamente, lembramos que Brumadinho é uma das poucas cidades da região que possui de forma institucionalizada um programa de educação patrimonial intitulado “Redescobrindo Brumadinho” - Lei nº 2.538 de 01 de julho de 2020. Idealizado pelo autor que vos fala, essa não é apenas uma lei municipal formal e sem efetivação de sua proposta. Mas um estandarte da necessidade de ter e manter ações voltadas para o patrimônio cultural brumadinhense.

Digno de nota que a lei é o resultado do programa institucional que criei na Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Brumadinho, cujo objetivo inicial era construir e efetivar as relações entre memória, história e patrimônio cultural nas escolas do município. Ação essa criada e mantida pela prefeitura de Brumadinho nos últimos anos e que conta com o apoio do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural.

Durante esses anos o programa se mostrou muito mais amplo e necessário em nosso município. Hoje o programa mantém sua essência em discutir com os vários atores públicos o nosso patrimônio cultural. O público escolar ainda tem sido o foco de muitas ações. Mas o “Redescobrindo Brumadinho” cresceu e ampliou suas ações dentre as quais destacaria: A) Produção de materiais gráficos que são distribuídos gratuitamente a alunos, moradores e visitantes como o passaporte cultural; guias culturais, cartões postais e cartilhas de fomento ao patrimônio cultural local; B) Sinalização do patrimônio cultural com placas e totens; C) Formação com com professores, guias de turismos, parceria com a Universidades Públicas; D) Fomento com entidades culturais, hoje o poder público municipal subsidia 30 (trinta) entidades culturais por meio do programa, dentre elas: guardas de congado, corporações musicais, circo, grupos de dança, associações quilombolas dentre outras. Sendo esse o maior programa de fomento à cultura da história do município e o único dessa natureza na região metropolitana de Belo Horizonte. E) Está em andamento o primeiro edital voltado para educação patrimonial da história de Brumadinho, onde vinte entidades serão contempladas para fomentar ações formais e informais de educação patrimonial em Brumadinho.

Poderia citar várias outras ações em andamento em Brumadinho que fazem parte desse guarda chuva chamado “Redescobrindo Brumadinho” como a criação do: Arquivo Público de Brumadinho, Restauração da Casa da Cultura Carmita Passos e construção do seu museu, Complexo Cultural da Estação Ferroviária de Brumadinho composto de museu, espaço cultural e área de lazer e etc. Mas esses serão assuntos das próximas colunas.

Fato é que durante o processo de planejamento e execução do (Re)descobrindo Brumadinho ao longos desses anos perpassamos por várias tentativas de (re)ligação dos elementos que julgávamos estarem fragmentados e distantes – o agente público, o patrimônio e a cidade, ao pensarmos em cada ação formal e/ou informal, nas perguntas realizadas, nas atividades propostas sempre pensamos: Como isso vai auxiliar e informar sobre o patrimônio cultural? Como o patrimônio cultural brumadinhense será visto ou abordado? Qual a melhor metodologia a ser usada? Como pensar na permanência dessa ação? Todos esses e outros questionamentos apontaram que esse sempre será um processo contínuo e que há uma necessidade de um diálogo permanente entre os atores envolvidos e uma ampliação desses atores.

O programa nos mostrou o quanto cada ação motivou e ampliou a noção dos envolvidos na construção e preservação do nosso patrimônio cultural. Mostrou que nossa Brumadinho são muitas e diversas. E isso faz da Terra das Brumas algo singular. Escrevi em um poema que “sem preciosismo o que acha aqui não se encontra em nenhum lugar. Porque na terra das Brumas tudo é ímpar e singular … De todas as peculiaridades que nos pertence . Eis os brumadinhenses”. Esse é o grande objetivo do programa, fazer a nós brumadinhenses, continuarmos redescobrindo nosso município.

Obviamente ao redescobrir Brumadinho chegamos e ainda estamos chegando a lugares inesperados. Hoje mais do que nunca seguimos certos de que muito já feito e que ainda há muito a ser feito, caminhos e possibilidades a serem trilhadas, precisamos compreender os múltiplos sentidos do patrimônio cultural brumadinhense e avançar viabilizando alternativas de forma plural e coletiva. E seguimos como Guimarães Rosa ao falar sobre o caminho a ser percorrido, disse que todo caminho da gente é resvaloso / Mas também, cair não prejudica demais - a gente levanta, a gente sobe, a gente volta! / O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. / O que ela quer da gente é coragem.

Assina